terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Amores Imperfeitos

Postado por Flá às 21:15 0 comentários


Acordei naquela manhã de maio e estranhei a cena gravada em minha mente. Nunca fui daquelas que lembravam detalhes dos sonhos, na verdade, as noites sempre me pareceram uma eterna escuridão em que eu fechava os olhos e não pensava em mais nada, apenas descansava depois de um dia exaustivo. Mas aquele sonho...
Um campo. Foi em um campo verde com pequenas flores coloridas que não condiziam muito com a estação em que estávamos. Éramos eu e um homem. Nem tudo está claro, algumas coisas parecem verdadeiros borrões. Não sei ao certo sua altura, por exemplo, mas lembro-me que era suficientemente alto para me passar segurança. Não sei, também, se essa sensação de segurança vinha por braços grandes ou pequenos, mas abraçavam bem forte, bem forte mesmo.
Lembro-me claramente do vento. Ah, o vento! Era uma brisa que lhe batia no rosto e o deixava ainda mais belo. Sei que era bonito, mesmo que não me recorde da cor exata de seus olhos, ou o formato dos lábios, nem o tamanho da boca, nariz ou orelhas. Sei que sua pele era macia.
Era tão macia quanto os cabelos sedosos que brincavam em um ritmo perfeito, em total sincronia com a música. Esta era causada pelos singelos assobios das correntes de ar que transitavam por entre o emaranhado de sensações paradas em meio a nosso brilhante e revelador silêncio.
O homem dos meus sonhos! Esse é, literalmente, o homem com quem sonhei...
Não sei qual era o tom da voz, nem o volume com que ele pronunciava cada uma das letras de meu nome: J-U-L-I-A. Mas, tenho a mais completa certeza de que era perfeita, tal como os sinos. Todos os sinos de uma catedral tocando ao mesmo tempo em uma sintonia perfeita que umedece os olhos, quando toca os ouvidos... Lembrei-me até de uma música que diz algo sobre o amor começar quando se escutam os sinos que os outros não escutam, ou algo assim.
Aquele campo... Não era totalmente estranho, mas também não era nada que eu pudesse dizer “me lembro, perfeitamente, dele”. É estranho. Tenho a sensação de que ele está perto. Ele, o campo. Ele, o homem.
É realmente estranho. Mas, sei que o homem de meus sonhos existe e que vou encontrá-lo, vou transformá-lo em realidade. Ah, eu vou encontrar...
Senti como se esbarrasse em uma muralha e caí. Lembrei-me de, mais uma vez, anotar mentalmente, “nunca andar distraída”. Mas sei que jamais iria funcionar. Ergui o olhar e o encontrei.
— Você está bem? — Ele me estendeu a mão para que eu me levantasse e não hesitei.
— O amor da minha vida! — Completei a frase que estava em meu pensamento, mas ela saiu alta demais, sem que eu percebesse.
Mas era o amor da minha vida, era o homem dos meus sonhos.
— O que? — Ele me encarou como se eu tivesse dito algum absurdo e, na verdade, era mesmo.
— Nada. — Tentei sorrir e o vi dar um passo para trás e parar ao lado de alguém. — Estou bem, não precisa se preocupar.
— Tome cuidado! — Abriu aquele sorriso e se foi.
Foi. Com ela.
É difícil acreditar que o homem de meus sonhos já tinha a mulher dos dele, mas isso é a vida. Nem todos os amores são perfeitos.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

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Postado por Flá às 11:35 0 comentários

Preciso arrumar a mala dos meus sentimentos eorganizar a bagunça que se faz em meu interior.Um cheiro de mofo querendo tomar conta de tudo.A coragem adiada pelo medo de arriscar outra vez,escrava das consequências de atitudes tolas.A paz sufocada pela ansiedade do amanhãque tenta aprisionar a fé…E matar a esperança!Ahh… Mas eu vou lutar, apesar disso!Não vou deixar morrer meus sonhosporque a gente não pode desistir da vida.

A verdade é que, no meio da multidão, estamos carregando nossas malas pesadas de riquezas e belezas e sentimentos. E uma hora, só porque acontece e não se pode explicar sem parecer ingênuo e arrogante, escolhemos uma pessoa que nos leve.
Eu sei que é amor porque eu te escolhi pra me levar e, mesmo você não tendo aceitado, eu fui.
[...]
A mala não te atingiu, caiu meio metro antes do seu último passo. Nem o som do meu peito desmoronado, nem o cheiro do meu amor metalizado, nem a luz da minha devoção dourada. A mala espatifou no meio da avenida caótica pela chuva e pela véspera do feriado. Os famintos, os entediados, os pobre-ninguéns, os todos-os-outros, se engalfinharam pra tirar proveito do amor que, lançado ao homem sem mãos aparentes, agora ficou esparramado, exposto e restante no asfalto, como um resto de feira reluzente.

Tati Bernardi

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Caminhos da Vida

Postado por Flá às 19:11 0 comentários

O amor não precisa de explicação, o amor dispensa definição. O amor se basta, dois amantes se completam. O amor é amigo do tempo, é irmão da felicidade e pai da cumplicidade e do perdão.



domingo, 17 de novembro de 2013

Do (não) amor.

Postado por Flá às 15:12 0 comentários



"- O tempo do outro demora uma eternidade. O tempo do outro demora duzentas mil vezes o espaço que eu dou para o tempo do outro. Eu preciso ver a outra pessoa para saber se de fato gosto dela, mas não consigo. Minha ânsia de amar é tão grande que me apaixonei criança por um vulto e até hoje fico pegando coisas reais para tentar preenchê-lo, mas o amor vive vazio. É como se eu tivesse te comprado, ou melhor: te inventado. A pior vingança de quem ousa inventar um amor é o personagem criar vida própria. Eu não respeito você. Não me importa sua hesitação. Qualquer tempo seu longe de mim é uma ofensa pessoal.
- Eu só tô te conhecendo, entende? Foi legal e tudo. Mas amor? Quem é que ama em uma semana?
- Eu
- Você acha que me ama, mas você não ta me vendo. Você tem uma sala na sua cabeça. Uma sala com um homem sentado no centro dela. Esse homem tem uma xícara de chá e um quadro e um tapete. Você não ama, você faz entrevista de ator pra cena que tem na sua cabeça. Você quer saber exatamente o que eu penso desde que seja exatamente o que você quer que eu pense. Você me chama de frio mas frieza é desconsiderar totalmente a outra pessoa como você faz. É desrespeitar o tempo dessa pessoa. É impor a sua realidade a essa pessoa. A maior vingança de um personagem é ter vida real e eu tenho vida real e você não suporta essa vingança. Toda a sua inteligência não foi capaz de colocar roteiro no mundo e então você anda por aí com suas olheiras e enjôos e medos e dores nas costas e cinismos e maldades. Como se todo mundo te devesse desculpas por não estar se movimentando de acordo com a sua direção. O amor é bem mais humilde que isso. Isso é desejo e desejo torto. E porque ainda não é amor, você cava a terra como um cachorro que precisa esconder o ossinho da dor. Você quer roer eternamente o seu vazio escondido no lugar onde sua flor idealizada nunca nasce e nem nunca vai nascer."

[Tati Bernardi]

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Que o nosso amor pra sempre viva.

Postado por Flá às 12:32 0 comentários

Ela atravessava a rua distraidamente olhando para o celular que tinha acabado de mostrar uma nova mensagem, nem vira em quem esbarrara na esquina, mas foi instintivo desviar a atenção para pedir desculpas.
-Desculpa, eu tava tão... – a frase parou no meio quando os olhos se encontraram – distraída, é isso, eu estava distraída! E você, meio estranho estar aqui, não, Felipe?
Fazia anos que ela não o via, a cidade era pequena realmente, mas não poderia acreditar que um dia ele voltasse para o que quer que fosse, nem para visitar a família.
-Minha avó, ela já não pode visitar para ver o neto preferido. – ele sorriu de canto a abaixou o rosto do jeito que ela nunca se esquecera, Rafaela precisou então piscar e respirar rápido para recuperar os sentidos.
-Preferido depois dos... Quantos netos ela tem mesmo? – os dois riram levemente – Não imaginava te encontrar, de verdade, achei que nunca mais iríamos nos ver.
-Eu também, Rafa, foi por isso, para não nos vermos, que evitei a cidade todos esses anos. Tudo bem que você sempre foi melhor do que eu em passagem de tempo, mas acho que são três anos, não? – ele estava sendo tão sincero que ela pensou se estava sonhando, mas se fosse, ela desejou não acordar.
-Não, quatro anos, completados semana passada, segunda-feira. – ela sentiu as bochechas corarem, por que precisava decorar todas as datas que os envolviam?
-Pelo menos eu errei por pouco dessa vez – ele tirou a franja do olho dela – Você mudou, principalmente o cabelo e confesso que eu preferia os seus cachos.
Ela sentiu um frio na barriga, era a mesma frase que seu ex-namorado dissera semanas atrás, enquanto ainda estavam juntos: que ele preferia os cachos. Foi por isso que ela alisou.
-Garanto que eu tive motivos fortes! – Não pretendia dá-los ali, naquele instante – Vai ficar muito tempo por aqui?
-Uma semana, cheguei agora pouco na verdade – ele mordeu o canto dos lábios, era um hábito dela que ele sempre imitara só para irritá-la, mas agora tinha o efeito contrário – Quais os motivos?
-Já tinha me esquecido o quão persistente você pode ser!
-Mais alguma coisa que a sua memória não registrou? – ele parecia se divertir com o reencontro, não transparecia o nervosismo que ela tinha claro.
-O quanto você é lindo – ela disparou o pensamento sem pensar nas consequências, sabia que depois de uma semana não iria reencontrá-lo.
-Você sempre me surpreendeu, mas eu não imaginava que me diria isso.
-Não? – ela sorriu de leve – Sempre te disse isso, em todo o tempo que ficamos juntos e repeti para mim, mesmo depois, durante quatro anos.
-Você também é linda! – ele passou a mão pelo rosto dela – Se eu te beijar, vamos acabar revivendo todo o passado?
-Acho que sim... – ela parou um pouco para ver a situação – E sofreremos de novo depois quando você for embora. Mas eu não ligo.
-Não? – ele se aproximou e ergueu uma sobrancelha em sinal de dúvida.
-Não, prefiro aproveitar aqui, agora. A sua ausência é o que dói e isso não importa quanto tempo passe.

Então eles se beijaram.

I will never win this game without you.

Postado por Flá às 11:04 0 comentários
Eu vou negando as aparências, disfarçando as evidências, mas pra que viver fingindo se eu não posso enganar meu coração?


As pessoas mentem. Mas as pessoas mentem para si mesmas tentando fingir e mentir, dizer que não, que não é assim ou assado.  As pessoas negam  seus sentimentos pelo medo de se tornar algo mais forte, não correspondido. Têm medo de sofrer.

Mas o que é a vida se não um eterno ciclo de alegrias e tristezas, alternância do alto e baixo, certo e errado? Fechamos a boca, escondemos o coração, negamos o frio na barriga, resistimos a atração. Para no fim compreender que é mútua, mas que já é tarde demais.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

"Mas nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que respeitar nossas fraquezas." [C. L.]

Postado por Flá às 14:24 0 comentários
"Mas a verdade é que tenho mesmo: olhos brilhantes, essa força e essa fraqueza, batidas desordenadas do coração."
[Clarice Lispector]

"Se não deu certo, apague e recomece. Esqueça o que ficou, esqueça a culpa, a falta de plano. Esqueça a dúvida, o que foi quase um engano. Apague e recomece. É sempre hora de mudar, de virar a página e se reinventar."
[Fernanda Mello]

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Depois de você, os outros são os outros e só.

Postado por Flá às 19:57 0 comentários



-Renato! – ela gritou se enchendo de coragem e pensando em como poderia dizer a ele tudo o que tinha guardado nos últimos seis anos.
-Carol? – ele ergue uma sobrancelha mostrando que a surpresa – O que você está fazendo aqui?
-Eu estava te esperando. – ela soltou sem meias palavras – Sei que você ainda trabalha aqui e decidi te esperar na saída, fiz mal?
-Não, claro que não! – o sorriso dele fez o coração dela gelar – Mas agora me deixou curioso para saber o que aconteceu. Não quer tomar um café comigo?
-Não, Rê, desculpa, mas seu eu fizer qualquer coisa que me tire daqui e desvie o meu olhar de você, eu vou perder a coragem de contar tudo. Eu espero que depois você continue me convidando para um café.
-O que pode ser tão grave assim? – ele estava sério agora e parecia realmente preocupado – Nem o fim do nosso relacionamento acabou com a nossa amizade de tanto tempo.
-É exatamente sobre ele que eu vim conversar com você. – ela parecia medir as palavras, estava a um passo de perder a coragem, mas agora que começara, não poderia mais parar.
-Sobre o nosso relacionamento ou o fim dele? – ele disse quando percebeu que o silêncio que se instaurara não seria quebrado por ela.
-As duas coisas. – ela respirou fundo e seguiu em frente – Sei que já são seis anos, que eu estou muito atrasada, mas aconteceu tanta coisa em nossas vidas durante esse período.
-Carol, eu não entendendo nada, juro que eu to tentando, mas você pode ser mais específica.
-Eu guardei isso comigo por muito tempo, Renato, e só agora eu criei coragem para te contar. Eu não consigo despejar tudo de uma vez!
-Tá, eu não vou te atrapalhar mais. – ele abaixou a cabeça rapidamente, mas voltou a encará-la quando escutou a fala dela recomeçar.
-Antes que eu estrague a nossa amizade, você me responde uma pergunta? – ele assentiu e ela continuou – Você e a Bruna terminaram mesmo?
-Há três meses, você sabe. – ele continuava com a expressão de dúvida no rosto, não conseguia entender.
-Eu precisava ter certeza antes de te dizer que ninguém mais foi igual a você todo esse tempo! – ela disse sabendo que não poderia voltar atrás em mais nada.
-Iguais a mim? – ele a encarou tentando perceber se havia entendido perfeitamente – Como assim? Quem? Iguais a mim em que sentido, Carolina?
-Os meus ex-namorados ou qualquer outro homem que tenha passado na minha vida. – ela começou a responder as perguntas fora de ordem, com a cabeça baixa e voz trêmula, não tinha coragem para olhá-lo – Nenhum deles mexeu comigo da mesma maneira que você, Renato, ninguém conseguiu despertar o sentimento que eu tinha por você. Droga! O sentimento que eu tenho. Eu ainda te amo, essa é a verdade e sim, iguais a você. Nenhum deles conseguiu ser o que você era pra mim.
-Nunca pensei em escutar um eu te amo seu novamente. – ele disse com a voz de quem estava perplexo diante da situação, mas sem raiva, sem rancor, sem mágoa.
-Era tudo que eu queria gritar durante esses anos, mesmo que às vezes mentisse para mim mesma. – ela disse com um sorriso nervoso, o rosto dele já transmitia mais serenidade e uma paz que ela não havia encontrado em mais ninguém – Você sempre foi o meu padrão de referência, digamos assim, e um padrão muito alto.
-Ainda bem. – ela sentiu ele se aproximar ainda mais – Não aceitaria menos do que ser o melhor.
-Verdade? – ela rezou para que estivesse certa e se aproximou ainda mais, os corpos quase colados – E você não tem mais nada pra me dizer?
-Acho que tenho sim. – as mãos dele pousaram na cintura dela, a boca próxima ao ouvido, a voz em um sussurro. – Eu te amo, te amei por todo esse tempo e nenhuma outra foi igual a você.

"Me sentia imensamente bem, mas acho que não era de felicidade, era esperança." [Vanessa Leonardi]

Postado por Flá às 18:29 0 comentários

"-Bom, feliz talvez ainda não. Mas tenho assim... aquela coisa... como era mesmo o nome? Aquela coisa antiga, que fazia a gente esperar que tudo desse certo, sabe qual?
-Esperança? Não me diga que você está com esperança!
-Estou, estou."
[Caio F. Abreu]

Tudo começou quando você não me quis mais.

Postado por Flá às 18:27 0 comentários


-Você tem certeza do que está dizendo, Daniel? – ela perguntava sentada na cama e o encarando com os olhos inchados pelo excesso de choro.
-Tenho, Mariana, desculpa. – ele abaixou a cabeça sem conseguir entender o que estava acontecendo exatamente depois de tanto tempo de namoro – Você mesma terminou comigo há alguns meses.
-Eu sei, mas também fui eu quem te ligo implorando para voltar, eu me arrependi e não entendo, não pode ser por isso que você está tomando essa decisão agora!
-Claro que não! Você sabe que eu não faria isso. – ele sorriu, mas era diferente, tinha uma ponta de tristeza – Eu queria era me casar com você, mas algo mudou, eu não sei te explicar. Na verdade, não sei o motivo de ter voltado com você.
-Você tem outra? – ela se levantou  com uma ponta de irritação saindo pela voz – Me fala a verdade!
-Claro que não, Mariana! – ele alterou o tom e respirou fundo para se controlar novamente – Eu não terminaria com você por ter outra em vista, apesar de ter me interessado por outra enquanto estávamos separados. Mas eu não te escondi isso, se fosse por ela ou por qualquer outra, eu nem teria voltado. É pela gente, simples assim.
-Simples? – ela prendeu o cabelo, era um verdadeiro sinal de nervosismo. – Como você pode dizer que é simples terminar um relacionamento de cinco anos?
-Tudo tem que ser complicado? Eu não te amo mais, não dificulte ainda mais, não faz isso comigo. – a impaciência estava cada vez mais evidente.
-Não, eu não to dificultando nada, Daniel! – foi a vez dela alterar a voz, a diferença é que se manteve assim – Eu só quero entender onde a gente se perdeu.
-Isso eu também não sei te responder, mas pode ter certeza de que eu lamento. Eu te amei muito. – ele a encarou e ela pode sentir a verdade saindo de seus olhos.
-Eu nunca quis te perder, mas é verdade também que nossas vidas são bastante diferentes, não é? – ela foi quem sorriu de maneira triste.
-É. – ele a beijou na testa de uma maneira carinhosa – Se cuida.

Ele pegou a bolsa que tinha as suas coisas e saiu pela porta sem nem olhar para trás. Ele tinha que seguir seu caminho. Não havia espaço para olhar para trás.
 

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