domingo, 31 de maio de 2015

Fim.

Postado por Flá às 21:22 0 comentários
"O pai morreu.
A sala de televisão está ceia, há gente sentada no cão, nas cadeiras, de pé junto à porta, encostada à parede, encavalitada no parapeito da janela, tanta gente que a sala ainda fica mais pequena e mais escura. O candeeiro dos cristais apagado, só os candeeiros foscos da parede e a luz que vem da televisão a aclarar os que estão mais próximos [...] É hoje. Hoje é o dia da independência de Angola. Angola acabou, nossa Angola acabou. Não sei para que estou a olha para a televisão, não sei por que estou aqui.
[...]
Não consigo viver sempre à espera que o pai chegue. Ninguém consegue viver sempre à espera de uma coisa assim. Sejas tu quem fores, tens de existir para que eu não espere mais. Sejas tu quem fores, existes e eu não espero mais. Sejas tu quem fores escolheste matar-me o pai.
O pai morreu."

Dulce Maria Cardoso in O Retorno

Aqui.

Postado por Flá às 20:55 0 comentários
"Aqui o mar acaba e a terra principia. Chove sobre a cidade pálida, as águas do rio correm turvas de barro, há cheias nas lezírias. [...] Então vamos, disse Fernando Pessoa, Vamos, disse Ricardo Reis. O Adamastor não se voltou a ver, parecia-lhe que desta vez ia ser capaz de dar o grande grito. Aqui, onde o mar se acabou e a terra espera."

José Saramago in O Ano da Morte de Ricardo Reis
 

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