Acordei
naquela manhã de maio e estranhei a cena gravada em minha mente. Nunca fui
daquelas que lembravam detalhes dos sonhos, na verdade, as noites sempre me
pareceram uma eterna escuridão em que eu fechava os olhos e não pensava em mais
nada, apenas descansava depois de um dia exaustivo. Mas aquele sonho...
Um campo. Foi em um campo
verde com pequenas flores coloridas que não condiziam muito com a estação em
que estávamos. Éramos eu e um homem. Nem tudo está claro, algumas coisas
parecem verdadeiros borrões. Não sei ao certo sua altura, por exemplo, mas
lembro-me que era suficientemente alto para me passar segurança. Não sei,
também, se essa sensação de segurança vinha por braços grandes ou pequenos, mas
abraçavam bem forte, bem forte mesmo.
Lembro-me claramente do
vento. Ah, o vento! Era uma brisa que lhe batia no rosto e o deixava ainda mais
belo. Sei que era bonito, mesmo que não me recorde da cor exata de seus olhos,
ou o formato dos lábios, nem o tamanho da boca, nariz ou orelhas. Sei que sua
pele era macia.
Era tão macia quanto os
cabelos sedosos que brincavam em um ritmo perfeito, em total sincronia com a
música. Esta era causada pelos singelos assobios das correntes de ar que
transitavam por entre o emaranhado de sensações paradas em meio a nosso
brilhante e revelador silêncio.
O homem dos meus sonhos!
Esse é, literalmente, o homem com quem sonhei...
Não sei qual era o tom da
voz, nem o volume com que ele pronunciava cada uma das letras de meu nome:
J-U-L-I-A. Mas, tenho a mais completa certeza de que era perfeita, tal como os
sinos. Todos os sinos de uma catedral tocando ao mesmo tempo em uma sintonia
perfeita que umedece os olhos, quando toca os ouvidos... Lembrei-me até de uma
música que diz algo sobre o amor começar quando se escutam os sinos que os outros
não escutam, ou algo assim.
Aquele campo... Não era
totalmente estranho, mas também não era nada que eu pudesse dizer “me lembro,
perfeitamente, dele”. É estranho. Tenho a sensação de que ele está perto. Ele,
o campo. Ele, o homem.
É realmente estranho. Mas,
sei que o homem de meus sonhos existe e que vou encontrá-lo, vou transformá-lo
em realidade. Ah, eu vou encontrar...
Senti
como se esbarrasse em uma muralha e caí. Lembrei-me de, mais uma vez, anotar mentalmente,
“nunca andar distraída”. Mas sei que jamais iria funcionar. Ergui o olhar e o
encontrei.
—
Você está bem? — Ele me estendeu a mão para que eu me levantasse e não hesitei.
—
O amor da minha vida! — Completei a frase que estava em meu pensamento, mas ela
saiu alta demais, sem que eu percebesse.
Mas
era o amor da minha vida, era o homem dos meus sonhos.
—
O que? — Ele me encarou como se eu tivesse dito algum absurdo e, na verdade,
era mesmo.
—
Nada. — Tentei sorrir e o vi dar um passo para trás e parar ao lado de alguém.
— Estou bem, não precisa se preocupar.
—
Tome cuidado! — Abriu aquele sorriso e se foi.
Foi.
Com ela.
É difícil acreditar que o homem de meus sonhos
já tinha a mulher dos dele, mas isso é a vida. Nem todos os amores são
perfeitos.