"O pai morreu.
A sala de televisão está ceia, há gente sentada no cão, nas cadeiras, de pé junto à porta, encostada à parede, encavalitada no parapeito da janela, tanta gente que a sala ainda fica mais pequena e mais escura. O candeeiro dos cristais apagado, só os candeeiros foscos da parede e a luz que vem da televisão a aclarar os que estão mais próximos [...] É hoje. Hoje é o dia da independência de Angola. Angola acabou, nossa Angola acabou. Não sei para que estou a olha para a televisão, não sei por que estou aqui.
[...]
Não consigo viver sempre à espera que o pai chegue. Ninguém consegue viver sempre à espera de uma coisa assim. Sejas tu quem fores, tens de existir para que eu não espere mais. Sejas tu quem fores, existes e eu não espero mais. Sejas tu quem fores escolheste matar-me o pai.
O pai morreu."
Dulce Maria Cardoso in O Retorno
domingo, 31 de maio de 2015
Aqui.
"Aqui o mar acaba e a terra principia. Chove sobre a cidade pálida, as águas do rio correm turvas de barro, há cheias nas lezírias. [...] Então vamos, disse Fernando Pessoa, Vamos, disse Ricardo Reis. O Adamastor não se voltou a ver, parecia-lhe que desta vez ia ser capaz de dar o grande grito. Aqui, onde o mar se acabou e a terra espera."
José Saramago in O Ano da Morte de Ricardo Reis
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José Saramago
segunda-feira, 25 de agosto de 2014
"E a vida tão generosa comigo veio de amigo a amigo me apresentar a você"
Eu escrevi quando tudo era
um sonho que acreditava ser realidade. Hoje eu percebi que a realidade eu estou
negando e preferindo acreditar que é um sonho. Vejo todos os erros que cometo,
cada equívoco que poderia evitar. Sinto em cada batida do coração como isso tem
tudo para terminar mal e não desvio; procuro o abismo como quem vai atrás da
felicidade, parecendo até que ela se encontra no pequeno foco de luz depois de
uma escuridão sem fim. E eu nem vejo esse foco ainda.
Para cada sorriso nervoso ou
sincero, um filme passou antes. Não que eu lembre exatamente, mas lembro de quando
te conheci, de quando te vi, de quando te reencontrei, de quando te abracei, de
quando errei. Lembro-me de quando te beijei e sinto vontade apenas de dizer
tchau. Até que, enfim, corro pra um abraço apertado.
E as palavras saem tão
bagunçadas quanto o coração. E a vontade não obedece a razão e o mundo parece
dizer apenas que eu devo sair para longe do imã que me atrai.
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Flávia Roveri,
Jorge Vercillo
terça-feira, 1 de julho de 2014
“Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne e sangra todo dia.” [José Saramago]
[Ana Jácomo]
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Ana Jácomo,
José Saramago
segunda-feira, 2 de junho de 2014
Paz, é tudo que eu venho tentando encontrar
Mas, me vem a saudade fazendo lembrar...
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Tânia Mara
quinta-feira, 22 de maio de 2014
Nada.
Você repara nas colunas da Tati
Bernardi e pensa “quão simples pode ser a inspiração”. Vem assim, da imagem
captada, da palavra gravada, do sonho tido... Mas não. As duas imagens não
parece tão boas, as palavras ditas ao seu redor não parecem as melhores para
serem gravadas no papel e os sonhos... Esses parecem não passar de um borrão
preto capaz de durar por todas as poucas horas que suas noites estão tendo.
Você lê o trabalho de Literatura
Portuguesa e vê o quão simples Fernando Pessoa conseguia ser. Simples? Ilusão!
Simples ilusão de que uma visão cotidiana cercada de devaneios, por acaso,
gerou uma poesia, um livro, uma coletânea... Gerou 180 heterônimos, 180 “eus”
que se divergem e convergem com uma facilidade absurda. Facilidade...
Não que cheguemos aos pés de
mestre Pessoa – ou de Mestre Caieiro para aqueles que conhecessem a história –
se nem ao menos aos pés de algo simples tentamos chegar. Mas quando se tentar
olhar para o nada, pensar o banal, as páginas a sua frente são um completo
branco que parecem te intimidar para dizer “Sua vida? É nada!”. E nos abatemos,
sem responder. Nossas vidas são nada, são brancas, pretas... De qualquer cor
que nossa alma resolva pintar, mas são reles vidas comparadas ao tamanho do
mundo.
E o que é a Filosofia? A ciência
capaz de desvendar os mistérios que há entre o céu e a terra e nossa vã
filosofia – difere-se aqui da letra maiúscula, por favor - é capaz de compreender. E a incompreensão do
mundo gera o devaneio que te leva ao nada, ao fundo, ao escuro...
Ao preto. Ao sonho.
E sonhos precisam de nexo?
E o que é a escrita além de
sonho?
Precisa então a escrita ter nexo?
Nem aqui há nexo. Nem aqui há
tudo o que eu queria.
Sonho. Preto.
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Flávia Roveri
terça-feira, 25 de março de 2014
terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
Amores Imperfeitos
Acordei
naquela manhã de maio e estranhei a cena gravada em minha mente. Nunca fui
daquelas que lembravam detalhes dos sonhos, na verdade, as noites sempre me
pareceram uma eterna escuridão em que eu fechava os olhos e não pensava em mais
nada, apenas descansava depois de um dia exaustivo. Mas aquele sonho...
Um campo. Foi em um campo
verde com pequenas flores coloridas que não condiziam muito com a estação em
que estávamos. Éramos eu e um homem. Nem tudo está claro, algumas coisas
parecem verdadeiros borrões. Não sei ao certo sua altura, por exemplo, mas
lembro-me que era suficientemente alto para me passar segurança. Não sei,
também, se essa sensação de segurança vinha por braços grandes ou pequenos, mas
abraçavam bem forte, bem forte mesmo.
Lembro-me claramente do
vento. Ah, o vento! Era uma brisa que lhe batia no rosto e o deixava ainda mais
belo. Sei que era bonito, mesmo que não me recorde da cor exata de seus olhos,
ou o formato dos lábios, nem o tamanho da boca, nariz ou orelhas. Sei que sua
pele era macia.
Era tão macia quanto os
cabelos sedosos que brincavam em um ritmo perfeito, em total sincronia com a
música. Esta era causada pelos singelos assobios das correntes de ar que
transitavam por entre o emaranhado de sensações paradas em meio a nosso
brilhante e revelador silêncio.
O homem dos meus sonhos!
Esse é, literalmente, o homem com quem sonhei...
Não sei qual era o tom da
voz, nem o volume com que ele pronunciava cada uma das letras de meu nome:
J-U-L-I-A. Mas, tenho a mais completa certeza de que era perfeita, tal como os
sinos. Todos os sinos de uma catedral tocando ao mesmo tempo em uma sintonia
perfeita que umedece os olhos, quando toca os ouvidos... Lembrei-me até de uma
música que diz algo sobre o amor começar quando se escutam os sinos que os outros
não escutam, ou algo assim.
Aquele campo... Não era
totalmente estranho, mas também não era nada que eu pudesse dizer “me lembro,
perfeitamente, dele”. É estranho. Tenho a sensação de que ele está perto. Ele,
o campo. Ele, o homem.
É realmente estranho. Mas,
sei que o homem de meus sonhos existe e que vou encontrá-lo, vou transformá-lo
em realidade. Ah, eu vou encontrar...
Senti
como se esbarrasse em uma muralha e caí. Lembrei-me de, mais uma vez, anotar mentalmente,
“nunca andar distraída”. Mas sei que jamais iria funcionar. Ergui o olhar e o
encontrei.
—
Você está bem? — Ele me estendeu a mão para que eu me levantasse e não hesitei.
—
O amor da minha vida! — Completei a frase que estava em meu pensamento, mas ela
saiu alta demais, sem que eu percebesse.
Mas
era o amor da minha vida, era o homem dos meus sonhos.
—
O que? — Ele me encarou como se eu tivesse dito algum absurdo e, na verdade,
era mesmo.
—
Nada. — Tentei sorrir e o vi dar um passo para trás e parar ao lado de alguém.
— Estou bem, não precisa se preocupar.
—
Tome cuidado! — Abriu aquele sorriso e se foi.
Foi.
Com ela.
É difícil acreditar que o homem de meus sonhos
já tinha a mulher dos dele, mas isso é a vida. Nem todos os amores são
perfeitos.
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Flávia Roveri
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
Reply
A verdade é que, no meio da multidão, estamos carregando nossas malas pesadas de riquezas e belezas e sentimentos. E uma hora, só porque acontece e não se pode explicar sem parecer ingênuo e arrogante, escolhemos uma pessoa que nos leve.
Eu sei que é amor porque eu te escolhi pra me levar e, mesmo você não tendo aceitado, eu fui.
[...]
A mala não te atingiu, caiu meio metro antes do seu último passo. Nem o som do meu peito desmoronado, nem o cheiro do meu amor metalizado, nem a luz da minha devoção dourada. A mala espatifou no meio da avenida caótica pela chuva e pela véspera do feriado. Os famintos, os entediados, os pobre-ninguéns, os todos-os-outros, se engalfinharam pra tirar proveito do amor que, lançado ao homem sem mãos aparentes, agora ficou esparramado, exposto e restante no asfalto, como um resto de feira reluzente.
Tati Bernardi
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Tati Bernadi
quinta-feira, 28 de novembro de 2013
Caminhos da Vida
O amor não precisa de explicação, o amor dispensa definição. O amor se basta, dois amantes se completam. O amor é amigo do tempo, é irmão da felicidade e pai da cumplicidade e do perdão.
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Flávia Roveri
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